sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Beatriz Leonardo

 


A menina também queria ir lá para fora brincar com o resto dos animais. Queria encher-se de cores, brincar com os orgulhosos ursos e lobos e correr como as lebres e os veados. Queria também falar tanto e rir-se tanto como os esquilos tagarelas, que apenas sabiam dançar de árvore em árvore, tão enérgicos e cheios de vida. No seu íntimo também ansiava estar de barriga para cima a apanhar sol, como os ouriços, ou a aprender os segredos do bosque, junto das toupeiras.
Olhou ao seu redor, entristecida e de certa forma ansiosa, tentando encontrar uma abertura naquela infinita prisão. Aquelas paredes brancas desprovidas de cores haviam sido criadas com o objetivo de a proteger do cruel mundo no qual habitava. A única fonte de luz era a janela que brilhava pelas manhãs e se obscurecia pelas noites. Não havia portas. Não havia saídas... ou era isso que a menina pensava, antes de sentir as carícias do vento sobre os seus grossos cabelos cor de pinhal. Dubitante, ergueu o seu inexistente rosto e percebeu ... a janela estava aberta, era o seu momento de liberdade.


in A Menina sem Rosto
                                         
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*Vídeo de João Quintela elaborado para um trabalho do 12.º ano (em 2021/2022) em que leu e divulgou autores que foram alunos ou professores das nossas escolas e que pode ver neste site.



Trabalho de vídeo sobre o seguinte excerto da obra da Beatriz Leonardo*

O Quarto Branco

Era uma vez uma menina que vivia num quarto branco no meio de um bosque.

O bosque, no qual fora alojada, era imensamente grande. Os pinheiros, imponentes e robustos, eram tão altos, mas tão altos que impediam as carícias do sol de passarem por entre as suas verdes folhas. Era um bosque sombrio, mas suave, tal como a noite sem estrelas, um berço gigante de inúmeras espécies de animais.

No meio de todo aquele arvoredo, existia uma terra plana, onde as flores cresciam, todas vaidosas pelos mimos do sol, de diferentes cores e tamanhos, distintas e únicas.

No centro daquela paleta de cores, havia um quarto. Um quarto branco, muito grande e muito vazio onde as cores não existiam e a alegria se desvanecia como água a escorrer pelas mãos.

Nesse quarto, só havia uma menina. Uma pequena e doce menina, que espreitava pela janela, curiosa pelo novo mundo.

in A Menina Sem Rosto, excerto do início da obra. 


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  • Notas biográficas

Beatriz Leonardo nasceu em 20 de março de 2002 na cidade de Faro, no Algarve.

“A menina Sem Rosto” é a sua primeira obra publicada, escrita aos dezasseis anos de idade.

As ilustrações constituem o trabalho final apresentado no Curso de Design de Comunicação da Escola Secundária Tomás Cabreira, o qual, em conjunto com o texto mereceu a notação máxima.

Com dezassete anos conquistou o 1.º Prémio da 12.ª edição do concurso literário da Sophia de Mello Breyner Andreson, com o conto “Chromodoris Reticulata”.

Recebeu outros primeiros prémios designadamente com a conceção de um Logotipo e de uma imagem comemorativa dos 30 anos da Convenção Sobre os Direitos da Criança, esta último em parceria.

Aos dezoito anos mudou-se para a cidade de Londres onde estuda “Illustration for Communication” na Ravensbourne University e continua a escrever e a ilustrar as suas estórias.

Em 2020 foi publicada a 1.ª edição do livro “A Menina sem Rosto” e em 2021 a versão inglesa da mesma obra, sob o título Faceless Girl”.

Instagram: @beatrizbbleonardo          

Twitter: @beatrizbleonard

     Mail:  beatrizborgesdebarrosleonardo@gmail.com

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