sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Cabrita, Sotero



Saudade



Saudade!...
Amor que se sente
Por um ente
Ausente. .
Desejo de o voltar a ver,
De com ele reviver
As mesmas ilusões,
As mesmas cantigas,
As mesmas aflições.
Saudade !...
Dor forte e profunda
Do nosso amor oriunda
Saudade !...
Monotonia que abre os corações
De dor,
Desejo forte que arrasta para aflições
De amor.
Saudade!. .
Também sou como os outros,
Meu peito também sente, também chora,
Sou poeta, por isso minha alma implora
Esse bálsamo divino,
— Tão belo!...
Saudade ! . . .
Adeus ... Até que um dia, venha a viver-te
Com ansiedade.
Saudade !...

in Meditações, Páginas 23 e 24


Caravela e a ilusão

Partiu um dia a caravela
Airosa e bela
Sulcando os mares.

E regressou.
Mas já sem mastros e sem velas
Arruinada
Cansada
Despedaçada.


Como vinha a caravela!
E como fora a caravela!
Senhor! Que transformação!


Tal como a caravela
A ilusão
Esta minha ilusão
É tal qual ela.

Partiu alegre,
Partiu armada
De ar triunfante.
Andou perdida
Andou errada
Na vida errante.

in Meditações, páginas 16 e 17
                                             

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BIOGRAFIA

                                                   

Sotero Cabrita foi aluno do Curso Geral do Comércio na Escola Industrial e Comercial de Faro nos anos 50 do século XX
Natural de Estoi
Trabalhou na TAP
Era poeta e em Lisboa frequentava o Café Martinho

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 Apresentamos o prefácio à  sua obra, escrito pelo professor Joaquim Magalhães:


Prefácio

           PEDE-ME O AUTOR duas palavras de apresentação para a sua estreia, convencido de que, assim acompanhado, lhe será menos custoso o primeiro ensaio no campo das letras.
           Ei-las e que elas realmente o ajudem a vencer a natural timidez dos estreantes e a ganhar confiança nas suas próprias possibilidades. Porque ao moço estudante, que assina este livrinho, não falta sensibilidade nem intuição poética para jogar com as palavras e organizá-las em poema. Além disso ama a poesia e sente para a expressão em verso um íntimo apelo que se me afigura agradavelmente prometedor nestes primeíros tenteios líricos. Originalidade real seria exagerado exigir-lhe logo de entrada. Raríssimos, na história das letras,se afirmaram, na estreia, portadores de uma mensagem inédita.Em todo o caso, na singeleza despretensiosa deste primeiro passo, há uma candura e uma ingenuidade que ficam bem a um moço e justificam o carinho e o estímulo que merecem todos os jovens com uma vocação imperiosa. O aperfeiçoamento vira com o tempo. As qualidades em potência ir-se-ão afirmando com a experiência poética da vida. Nenhum fruto nasce logo maduro. E este livrinho bem pode vir a ser um começo com futuro. Assim seja.

Joaquim Magalhães



Links:

artigo no blogue da AAAETC
http://costeletasfaro.blogspot.com/2008/08/dois-costeletas-famosos.html

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