sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Pinto, Serpa


















Nessa noite o meu sono foi acalentado pelo ruído da catarata de Gonha, que, a jusante dos rápidos da Situmba, interrompe a navegação do Zambeze.
No dia 4, logo de manhã, depois de ter comido um prato enorme de ginguba, presente do chefe das povoações, tomei um guia e dirigi-me para as cataratas.
[...]
Gonha não tem a imponência das grandes cataratas. Ali a paisagem é suave, variada e atraente. A mistura da floresta pomposa, com a rocha e com a água, estão harmonizadas, como por mão de artista hábil em tela primorosa.
Mesmo o despenhar da água no abismo, não causa ruído pavoroso, e é decerto amortecido pela vegetação enorme que a rodeia.
Ali não se elevam vapores, que convertidos em chuva alaguem as vizinhanças; ali o acesso é livre a toda a parte, parecendo que a natureza se comprazeu a tornar fácil a visita à sua bela obra. Gonha é como a casquilha que se mostra, que se deixa contemplar, para que a admirem.
Depois de levantar a planta da grandiosa catarata, demorei-me ali até à noite, não cansando os olhos de ver tão esplêndido quadro, em que a cada momento descobria uma nova beleza.
Voltei ao meu campo, saudoso pela lembrança de que não veria mais em minha vida, o espetáculo sublime que deixava para sempre.

Mapa: Alto Zambeze - Cataratas de Gonha


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Escola Técnica Elementar Serpa Pinto

Serpa Pinto foi patrono da nossa Escola  Técnica Elementar Serpa Pinto  entre 1947 e 1951.

"Em 1948, com a construção do novo edifício do Liceu de Faro, a Escola Técnica Elementar Serpa Pinto, criada pelo Decreto Lei n.º 36 409, de 11 de Julho de 1947, passa a ocupar o edifício onde funcionava o Liceu, o qual foi objeto de diversas obras de remodelação e ampliação. Em 31/05/1951, pelo Dec. - Lei n.º 38 277, fundiu-se a Escola Industrial e Comercial de Tomás Cabreira com a Escola Técnica Elementar Serpa Pinto, dando origem  à Escola Industrial e Comercial de Faro."

 in blogue da AAAETC.


     


Serpa Pinto foi militar e explorador do continente africano.

Em 1877 Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens são nomeados para participar numa expedição científica à África Central, que tinha como objetivo -no interesse da ciência e da civilização- explorar os territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Após divergências* com os seus companheiros, Serpa Pinto entendeu continuar sozinho para fazer o reconhecimento do território e efetuar o mapeamento do interior do continente africano, de modo a preparar a entrada de Portugal na discussão pela ocupação dos territórios africanos que, até então, apenas serviam de entrepostos comerciais. Pode ver mais informações sobre o "Mapa cor-de-rosa" e o "Ultimato britânico de 1890 na wikipédia de Serpa Pinto.

*Este desentendimento resultou em dois livros que foram best sellers: “Como eu atravessei a África" de Serpa Pinto e “De Benguela às Terras do Iaca” de Capelo e Ivens.
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Serpa Pinto in wook:

 
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Mais um excerto de Como eu atravessei a África atualizado e lido pelas alunas Beatriz Santos e Maria Sofia para um trabalho de Aplicações Informáticas B no âmbito do Projeto Cont'Arte:

"Não tem pretensões a obra de literatura este livro. Escrito sem preocupação da forma, é a fiel reprodução do meu diário de viagem.

Cortei nele muitos episódios de caçadas, e outros, que um dia no descanso, produziram um volume de carácter especial. Busquei sobre tudo fazer realçar o que mais interessante se tornava para os estudos geográficos e etnográficos, e se não me pude eximir a narrar um ou outro dos muitos episódios dramáticos que abundaram na minha fadigosa empresa, foi quando a esses episódios se ligavam factos consequentes, de importância, já para alterar o itinerário projetado, já determinando demoras, ou marchas precipitadas, que seriam incompreensíveis sem a exposição das causas determinantes.

À Europa, e em geral ao homem que nunca viajou nos sertões do interior de África, não é dado compreender o que se sofre ali, quais as dificuldades a vencer a cada instante, qual o trabalho de ferro não interrompido para o explorador."

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