sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O projeto Cont'Arte

     Este é um dos projetos do Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira (AETC) e tem como objetivos principais a promoção da leitura e a produção de interpretações artísticas (teatro, dança, música, textos, desenhos, ilustrações, vídeos, audiolivros…) a partir de textos de autores do Agrupamento. E por isso mesmo, é também um projeto de memória, isto é, de divulgação da nossa memória coletiva, que se enquadra na implementação da "Flexibilidade Curricular" e da "Estratégia da Educação para a Cidadania" do AETC.

       Muitos dos autores deste blogue foram alvo de trabalhos e de leituras de alunos, que já se encontram nos respetivos autores. Mas temos mais textos e leituras que irão enriquecer o bloque. Entretanto ficam aqui alguns sites, vídeos e leituras áudio (alguns feitos em ensino à distância - E@D), que oportunamente serão integrados nos respetivos autores. Aqui ficam alguns exemplos:

O Vampiro de Carlos Augusto Lyster Franco 
Recriação artística do conto por: Filipe Palma, Isabelle Nóran, Isaura Peres, Pamela Bender e Sava Manojlovic.


Site Cont'Arte com leituras áudio
Site de Adriana Zhuk com biografias e leituras de seis autores Cont'Arte.


Dezenas de ilustrações com base em leituras e interpretações de contos de Carlos Augusto Lyster Franco. Foram realizadas com técnicas várias, em A4 e A3, por alunos de turmas de Artes Visuais. Nota: iremos aqui os nomes dos nossos artistas.


Contos de Carlos Lyster Franco (professor e diretor da nossa escola nos anos 10 -e mais alguns- do século XX) com ilustrações de alunos de Artes Visuais no final dos anos 10 do século XXI. 
Estas obras tem edição da equipa das Bibliotecas Escolares e na sua produção colaboraram também alunos de Cursos de Ciências e Tecnologias e do Curso Profissional de Secretariado, que colaboraram, entre outros, na feitura do necessário glossário.


Leituras por Beatriz Lua.


Leituras por Leonor C.


      Pode clicar aqui para ver uma apresentação preparada pela equipa das Bibliotecas Escolares do Agr. Tomás Cabreira e divulgada em julho de 2019 num encontro de partilha e discussão de "Boas Práticas nas Bibliotecas Escolares do Algarve".


http://www.agr-tc.pt/bibliotecas/contarte-apresentacao/apresentacaocontarte16jul2019.pdf

As nossas escolas

Escola Básica do Bom João, Faro (Pré-escolar e 1.º Ciclo).
Escola Básica de S. Luís, Faro (1.º Ciclo).
Escola Básica Dr. Joaquim Rocha Peixoto Magalhães, Faro (2.º e 3.º Ciclos).
Escola Secundária de Tomás Cabreira, Faro.
Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira, Faro.
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Escola Básica da Ilha da Culatra, Faro (1.º Ciclo) - 2011 a 2019.
Escola do Ensino Básico Mediatizado da Ilha da Culatra, Faro (2.º Ciclo) - 2011 a 2019.
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Escola de Desenho Industrial de Pedro Nunes - 1888.
Escola Industrial e Comercial de Pedro Nunes em Faro - 1914.
Escola de Artes e Ofícios de Pedro Nunes - 1918.
Aula Comercial - 1918.
Escola Elementar de Comércio - 1918.
Escola Comer­cial de Faro - 1918.
Escola de Artes e Ofícios.
Escola de Carpintaria e Trabalhos Femininos de Pedro Nunes, de Faro.
Escola Comercial Tomás Cabreira - 1921.
Escola Industrial e Comercial de Tomás Cabreira (EICTC) - 1931.
O Decreto nº 18.420 (de 1930 ou 31?) no seu Art. 363º refere que: "São fundidas as escolas de artes e ofícios de Pedro Nunes e comercial de Tomás Cabreira, de Faro, constituindo uma só escola industrial e comercial."
Escola Primária da Sé, anexa ao Magistério Primária - anos 30 e 40.
Escola Primária de S. Luís - anos 40.
Escola Técnica Elementar Serpa Pinto  (ETESP) - 1948 (apenas com o ciclo preparatório que é equivalente aos agora 5º e 6º anos).
Escola Industrial e Comercial de Faro - 1952/53 (as escolas ETESP e EICTC unem-se e perdem o nome dos patronos - 5.º ao 9.º anos).
Escola Primária do Bom João - anos 70.
Escola Industrial e Comercial de Faro - 1973 (a escola passa a leccionar os recém-criados Cursos Complementares do Ensino Técnico, equivalentes ao (então) 7º ano dos Liceus, hoje 11º ano).
Escola Secundária de Tomás Cabreira, em Faro - 1979 (Portaria nº 608/79, de 22 de Novembro, que extingue os ensinos liceal e técnico profissional).
Escola Primária n.º 1 de Faro.
Escola Primária n.º 3 de Faro.
Escola Preparatória n.º 2 de Faro - 1987/1988 (portaria 465/85).
Escola C+S nº 2 de Faro.
Escola EB 2/3 Dr. Joaquim Magalhães.
Escola E.B.1 do Bom João.
Escola E.B.1 de S. Luís.
Agrupamento Horizontal de São Luís, Faro.
Agrupamento Vertical de Escolas Dr. Joaquim Magalhães, Faro

Barriga, Luís

Luís Barriga

FEIRA DE ESTOI

        Todo o segundo domingo de cada mês havia mercado, um mercado rural tradicional e centenário. O Mercado de Estoi era famoso nas redondezas pela quantidade e variedade de produtos à venda e pelo preço. É uma referência da cultura popular e da tradição do concelho de Faro. De todos quanto se realizam na região, é sem dúvida um dos mais agitados e coloridos, cujo burburinho e tipicidade, criaram fama que arrasta centenas de visitantes, entre locais e forasteiros. Mas no mês de Setembro, o mercado mensal dava lugar à Feira de Estoi. Esta durava alguns dias, ao contrário do mercado que estava adstrito ao domingo de manhã.
        A aproximação e a preparação da feira trazia feirantes de diversos pontos do país, na esperança de conseguir o melhor lugar para o seu negócio. A meio da semana já o campo de futebol, transformado em recinto de feira, estava metamorfoseado num estaleiro de barracas e bancas a serem armadas. Estacas espetadas a pancadas de malho e cordas esticadas à força de braço iam dando forma à área da feira. O circo Cardinali já içava os mastros da tenda principal, onde iria decorrer a apresentação do seu espectáculo, ao mesmo tempo que toda uma panóplia de personagens se movimentava em volta das suas roulottes.

in Sombra e Sol  - Vai a rua em duas cores, página 171

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 Biografia

Nascido, a 24 de maio de 1961, em Estoi, Concelho de Faro. 
Foi aluno da Escola Comercial e Industrial de Faro nos anos 70 do século XX
Psicólogo Clínico, reconhecido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.
 Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
 Mestre em Psicologia Perinatal, 
Foi Docente Universitário. Investigador em Psicologia Clínica.
Orientador de Estágios Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses. 
Diretor da Casa do Povo de Estoi.
Presidente da Associação Cívica Tomaz Cabreira.

Bibliografia

Em Nome D’El Rey.
Clube do Autor, em 2018.

Estoi – Festa da Pinha.
Arandis Editora, em 2017.

Mais Sol Que Sombra.
Arandis Editora, em 2016.

Sombra e Sol - Vai a rua em duas cores.
Arandis Editora, em 2015.




Barcoso, Cristina


 

O conceito de alfabetização do PEP terá um alcance mais lato, não se confinando unicamente ao ler, escrever e contar, procurando também valorizar e completar a formação moral e espiritual do povo, através da divulgação de noções de educação moral e cívica, organização corporativa, previdência social, segurança no trabalho, higiene e defesa da saúde, agricultura e pecuária. Esta ideia de formação moral e espiritual envolve também a educação nacionalista de uma forte componente de inculcação ideológica e de doutrinação moral, baseando-se num esforço de produção de consensos sociais fundados em valo-res que se dizem atemporais e indiscutíveis. O PEP contribuirá para um modelo de sociedade que traduz projectos unificadores no plano político, simbólico e cultural (cf. Nóvoa, 1994:4/5) e para um maior controlo ideológico sobre a sociedade, nivelando por baixo a sua educação. 

in O Zé Analfabeto no Cinema
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Cristina Barcoso é professora do Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira.




Bulha, Dulce

Devaneio em jeito de prefácio



           Diariamente cumprimos um ritual que conduz à "cegueira", não permitindo apreender aquilo que nos rodela, lançando-nos numa apatia cultural. Foi a necessidade premente de mudança que norteou o projeto multidisciplinar inicialmente denominado "O Nome da Rua", desenvolvido por alunos e professores de artes da Escola Secundária de Tomás Cabreira, em Faro, ao longo de três anos letivos.
           Pela sua situação geográfica, de grande acessibilidade pelo mar, Faro foi palco, ao longo dos séculos, de sucessivas invasões de vários povos, entre eles romanos e árabes, que nos deixaram vestígios da sua cultura e modos de vida. Sofreu, também, grandes devastações provocadas por fatores naturais (terramotos) e humanos (invasões que destruíram, pilharam e incendiaram a cidade). Apesar disso, o primitivo núcleo urbano, da Vila Adentro, em forma ovoide, conseguiu manter a sua estrutura medieval, ainda hoje visível no traçado das ruas, nas muralhas ou em algumas das vivências dos seus habitantes. Predomina, no entanto, uma arquitetura oitocentista de grande beleza, devido à reconstrução feita após a destruição provocada pelo terramoto de 1755, que devastou Lisboa e particularmente o Algarve. Este aglomerado, de características muito próprias, foi o objeto de estudo e espelha-se neste trabalho.
           O desafio de estimular o olhar, o sentir e o saber, através da reflexão histórica, social e estética, valorizando a riqueza da nossa história em termos arquitetónicos e sociais, no sentido de defender e divulgar o património local à comunidade, esteve na base da criação de uma vasta gama de trabalhos relacionados com a Vila Adentro, apresentados numa exposição patente no Museu Municipal.
O envolvimento, a dedicação e o entusiasmo de alunos e professores no projeto "O Nome da Rua"  fê-lo crescer e extravasar os seus objetivos iniciais, apoderando-se das emoções, das sensações e das vivências locais, ultrapassando o trabalho de escola e transformando-se nesta obra abrangente "Vila Adentro — O Espírito do Lugar" que permite, não só, conhecer a história e usufruir do espaço mas, também, sentir a própria essência e espírito do lugar.
            Este livro vai para além da descrição do local captando a sua alma através de um percurso em que cada rua é apresentada por alguns dos seus alçados, pelo seu traçado, pela história da toponímia, por desenhos e fotografias manipulados de modo criativo, representando aspetos gerais ou pormenores dos espaços em estudo, criando um novo olhar sobre a "cidade velha" e permitindo, a quem vier a usufruir desta obra, descobrir a "realidade na fantasia..," As imagens são acompanhadas por textos sobre as características da rua e da sua arquitetura, sobre os sentimentos e emoções que delas emanam e com os testemunhos de quem lá viveu. Como complemento, a inclusão de um glossário permite, a quem não estiver sensibilizado para o tipo de terminologia técnica e de algum vocabulário mais popular utilizados no livro, sentir-se mais elucidado e, por consequência, esperemos, emocionalmente mais envolvido.


in Vila Adentro O Espírito do Lugar, página13 (Prefácio)

(Texto escrito em co-autoria com a Professora [aposentada] Rosa Trindade )
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Biografia


Atualmente, Dulce Bulha  é professora no Agrupamento de Escolas de Tomás Cabreira

Cabreira, Tomás



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Posto agrário e ensino móvel

           O Algarve constitui uma região agronómica característica que se diferencia nitidamente das outras regiões portuguesas. Com um clima de caráter mediterrâneo, que só encontra similar na Sicília e no norte de África, com uma vegetação própria desse clima, o Algarve é uma zona naturalmente destinada à cultura de primores e frutas, que urge estudar sob bases científicas. É portanto necessário estabelecer, no distrito de Faro, um posto experimental agrário que compreenda um campo de experiências e viveiros de plantas algarvias ou suscetíveis de se adaptaram ao Algarve, uma escola agrícola móvel, um laboratório de análises e uma oficina de embalagens de produtos agrícolas.

in Posto Agrário e Ensino Móvel

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Biografia

Tomás António da Guarda Cabreira (Tavira, 23 de Janeiro de 1865 — Tavira, 4 de Dezembro de 1918) foi um ministro das Finanças de Portugal entre 9 de Fevereiro de 1914 e 23 de Junho do mesmo ano. Foi, também, professor, militar e escritor.

Tomás Cabreira nasceu em 1865 na cidade de Tavira, filho do General Tomás António da Guarda Cabreira e de sua mulher e prima Francisca Emília Pereira da Silva Cabreira. O seu avô, o Marechal-de-Campo Tomás António da Guarda Cabreira era o 1.º Conde de Lagos e 1.º Visconde do Vale da Mata. Teve um filho, Tomás Cabreira Júnior.


Carreira académica e militar

A sua educação foi feita paralelamente na Escola do Exército, onde se licenciou em Engenharia Civil (1893), e na Universidade de Coimbra, onde frequentou o curso de Ciências Matemáticas. Leccionou na Escola Politécnica as disciplinas de Química Mineral e Química Orgânica, sendo depois nomeado lente definitivo do mesmo estabelecimento de ensino. Da sua carreira académica, saliente-se, aínda, o Doutoramento, em 1916, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e o facto de ter sido um dos fundadores da Academia das Ciências de Portugal e da Universidade Popular de Lisboa.
Na perspectiva militar, Tomás Cabreira atingiría o posto de Coronel do Exército, em 1918, ano da sua morte.

Carreira política

Tomás Cabreira esteve, igualmente, ligado à política, tendo sido vereador da Câmara Municipal de Lisboa, em 1908, e deputado republicano pelo Algarve às Constituintes, em 1911. Em 1912 é senador e, em 1914, é nomeado para Ministro das Finanças. Por razões internas do Partido Democrático, de que era membro e dirigente (1914), demite-se da pasta de que era responsável. Após a demissão, funda a União da Agricultura Comércio e Indústria.

Fez parte da Maçonaria, da qual foi 9.º e 13.º Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano entre 1899? e 1902 e entre 1907 e 1908, cargo extinto pela Constituição de 31 de Dezembro de 1907, em vigor desde 6 de Março de 1908 e restabelecido pela Constituição de 2 de Janeiro de 1912, e esteve ligado ao jornalismo ocupando diversos cargos na Associação dos Jornalistas de Lisboa e na Associação da Imprensa Portuguesa.

Os livros publicados por Tomá Cabreira abrangem diversas áreas do conhecimento, desde a Economia, à Química, passando pela Arte e pelo Turismo:
  • Princípios de Estereoquímica (1896)
  • Velásquez é um Pintor Português (1908)
  • O Problema Financeiro e a sua Solução (1912)
  • A Contribuição Predial (1912)
  • O Problema Bancário Português (1915)
  • Crédito Comercial e Industrial (1915)
  • Posto Agrário e Ensino Móvel
  • A Escola Primária Agrícola
  • A Questão Corticeira, 1915
  • Tarifas Ferroviárias, 1915
  • Zonas Turísticas", 1915
  • A Defesa Económica de Portugal (1917).
  • O Algarve Económico (1918)
  • A Política Agrícola Nacional (1920)
  • A Composição da Linguagem de alguns Povos Pré- Históricos (1923)

Homenagem

A pedido do Conselho Escolar da Escola Comercial de Faro, Tomás Cabreira foi homenageado dando o seu nome a esta escola, pela portaria nº 2.576 de 17 de janeiro de 1921 do Governo da República, passando aquela a designar-se por Escola Secundária Tomás Cabreira.


in Wikipedia

Cabrita, Sotero



Saudade



Saudade!...
Amor que se sente
Por um ente
Ausente. .
Desejo de o voltar a ver,
De com ele reviver
As mesmas ilusões,
As mesmas cantigas,
As mesmas aflições.
Saudade !...
Dor forte e profunda
Do nosso amor oriunda
Saudade !...
Monotonia que abre os corações
De dor,
Desejo forte que arrasta para aflições
De amor.
Saudade!. .
Também sou como os outros,
Meu peito também sente, também chora,
Sou poeta, por isso minha alma implora
Esse bálsamo divino,
— Tão belo!...
Saudade ! . . .
Adeus ... Até que um dia, venha a viver-te
Com ansiedade.
Saudade !...

in Meditações, Páginas 23 e 24


Caravela e a ilusão

Partiu um dia a caravela
Airosa e bela
Sulcando os mares.

E regressou.
Mas já sem mastros e sem velas
Arruinada
Cansada
Despedaçada.


Como vinha a caravela!
E como fora a caravela!
Senhor! Que transformação!


Tal como a caravela
A ilusão
Esta minha ilusão
É tal qual ela.

Partiu alegre,
Partiu armada
De ar triunfante.
Andou perdida
Andou errada
Na vida errante.

in Meditações, páginas 16 e 17
                                             

                                                      _____________________________


BIOGRAFIA

                                                   

Sotero Cabrita foi aluno do Curso Geral do Comércio na Escola Industrial e Comercial de Faro nos anos 50 do século XX
Natural de Estoi
Trabalhou na TAP
Era poeta e em Lisboa frequentava o Café Martinho

                                                           _________________________________

 Apresentamos o prefácio à  sua obra, escrito pelo professor Joaquim Magalhães:


Prefácio

           PEDE-ME O AUTOR duas palavras de apresentação para a sua estreia, convencido de que, assim acompanhado, lhe será menos custoso o primeiro ensaio no campo das letras.
           Ei-las e que elas realmente o ajudem a vencer a natural timidez dos estreantes e a ganhar confiança nas suas próprias possibilidades. Porque ao moço estudante, que assina este livrinho, não falta sensibilidade nem intuição poética para jogar com as palavras e organizá-las em poema. Além disso ama a poesia e sente para a expressão em verso um íntimo apelo que se me afigura agradavelmente prometedor nestes primeíros tenteios líricos. Originalidade real seria exagerado exigir-lhe logo de entrada. Raríssimos, na história das letras,se afirmaram, na estreia, portadores de uma mensagem inédita.Em todo o caso, na singeleza despretensiosa deste primeiro passo, há uma candura e uma ingenuidade que ficam bem a um moço e justificam o carinho e o estímulo que merecem todos os jovens com uma vocação imperiosa. O aperfeiçoamento vira com o tempo. As qualidades em potência ir-se-ão afirmando com a experiência poética da vida. Nenhum fruto nasce logo maduro. E este livrinho bem pode vir a ser um começo com futuro. Assim seja.

Joaquim Magalhães



Links:

artigo no blogue da AAAETC
http://costeletasfaro.blogspot.com/2008/08/dois-costeletas-famosos.html

Campião, Luís

Luís Campião















(As falas devem ser distribuídas aleatoriamente (ou segundo critérios da encenação) por, no mínimo, sete, e no máximo, treze actores.)


Escuro.
- Tudo começou com um rapazinho.
- Um rapazinho numa praia.

Luz.
- Um rapazinho morto.
- Um rapazinho morto numa praia.
- Digo um rapazinho porque não teria mais de 3 anos.
- 4 anos.
- 3 ou 4 anos. Não se sabe muito bem.
- Uns dizem 3, outros dizem 4.
- Anos.
- Um rapazinho de 3 ou 4 anos morto numa praia.
- Uma tragédia.
- Tiraram uma fotografia.
- Uma fotografia que percorreu a internet.
- As redes sociais.
- As pessoas ficaram chocadas.
- Muito chocadas a olhar para a fotografia do rapazinho de 3 ou 4 anos morto numa praia.
- Onde era a praia?
- …
- Quem era o rapazinho?
- …
- Era um rapazinho.
- Morto.
- É tudo o que preciso saber.
- Amanhã acordo e vou trabalhar, como faço todos os dias.
- Mas depois de ver a fotografia do rapazinho morto, pergunto-me como posso ir trabalhar. 

in Palco de Babel, Página 2.

                                            
                                           

Biografia

Nasceu em Portimão em 1974.
Escritor, dramaturgo, ator.
Professor no Agrupamento de Escolas de Tomás Cabreira nos anos 10 do século XXI.   
         
Licenciou-se em Estudos Teatrais pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, Porto em 2001 e fez a Pós-graduação em Texto Dramático Europeu pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2004. 
Desenvolve projecto de mestrado em Artes Performativas - Escritas de Cena na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.

Bibliografia

Nossa Senhora da Açoteia  Prémio António José da Silva 2012, e 1º prémio do concurso de textos teatrais TUP, 2012, publicado pela Chiado Editora, 2013;  
Parabéns (ESTC/ Leituras no Mosteiro TNSJ, 2012) 
A Cova dos Ladrões (ACTA, 2010).
O Menino da Burra foi distinguido com uma menção honrosa no concurso INATEL - Novos Textos 2013.





Nossa Senhora da Açoteia












Coroa, Dr. Campos

















Biografia


     Ninguém melhor que João Leal antigo Costeleta e membro da AAAETC para nos traçar um emotivo perfil do Dr. Emílio Campos Coroa, com vários pormenores culturais da nossa cidade, num texto publicado no jornal "O Algarve" aquando do 25º aniversário da sua morte. 


Na memória do dr. Emílio Campos Coroa

          Completaram-se, no passado dia 25 de Outubro, vinte e cinco anos sobre a morte dessa figura de cidadão, médico, pedagogo, poeta, artista, realizador cinematográfico e democrata, que foi o dr. Emílio Campos Coroa, sem dúvida, das figuras maiores dos obreiros da vida cultural algarvia no século XX.
         Natural de Beja, este “algarvio assumido”, cuja saudosa memória permanece viva e omnipresente na nossa mais afectuosa saudade, licenciou-se com alta classificação em Medicina, de que se especializou em várias áreas (oftalmologia, saúde escolar, etc.) e foi na sua intensa vida de estudante universitário figura destacada da vida coimbrã, de modo próprio do TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, fundado e dirigido pelo Dr. Paulo Quintela.
Aí conheceu a que seria sua futura e dedicada esposa e devotada mãe de seus filhos, a então estudante de Letras e também grande artista, a dra. Maria Amélia Coroa, cuja interpretação de “Súplica da Cananeia” é considerada como das melhores de sempre realizadas.
        O dr. Emílio Coroa foi um irmão pleno dessa outra grande figura da Arte e da Educação do Algarve, o eng. José de Campos Coroa, que director da Escola Secundária de Vila Real de Santo António e que viria a sucumbir num acidente de viação, ocorrido entre Faro e a cidade pombalina.
       Ambos e para além de outros estabelecimentos  exerceram também a docência pedagógica nas Escola Industrial e Comercial Tomás Cabreira e a ambos se referindo os amigos e conhecidos pelo tratamento afectivo, quando a cada qual se referiam, de “mano Emílio” ou “Mano Zé”.
        Após ter exercido a clínica médica em Portimão, fixou-se em Faro, na segunda metade dos anos 50 do século XX e desenvolveu toda uma acção do mais elevado sentido e acutilância em múltiplas áreas, de que recordamos o Cine Clube de Faro (passando-se então de uma para duas sessões mensais), o Círculo Cultural do Algarve (de que o Grupo de Teatro ostentava o nome, para depois se chamar “Teatro da Serrapilheira”, quando da transição para as instalações do extinto Clube Recreativo 20 de Janeiro, na Rua do Alportel até ao definitivo Grupo de Teatro Lethes, quando da “fixação” (sê-lo-ia?) no clássico edifício que foi Colégio dos Jesuítas), do monumento ao republicano e democrata o benemérito médico dr. João da Silva Nobre, ali no Largo Bouzela e obra do artista farense Sidónio de Almeida), ao Jardim Escola João de Deus (na Mata do Liceu e com projecto do então jovem Arquitecto João Reis), ao médico oftalmologista do Hospital de Faro e à clínica estendida a várias localidades do Algarve e do Baixo  Alentejo, ao político sempre fiel às suas ideias e com uma relevância pública maior após o 25 de Abril, etc.
            Faro expressou-lhe o seu reconhecimento oficial com a “Medalha de Ouro da Cidade” e dar o seu honrado nome a uma das artérias da “cidade em quarto crescente”, como um dia, numa das suas inspiradas “Crónica de Faro” e nestas colunas escreveu Mário Zambujal, mas o maior está na afectuosa lembrança de cada um e muitos milhares o são guardam deste homem – artista e médico devotado, que tanto serviu o Algarve, que escolheu, tal como seu lembrado irmão, o eng. José Coroa, para “servir, viver e morrer”.
          O sentido inédito encenador da obra teatral, com as famosas representações ao ar livre – na doca (“O lugre”), nos frontais das Igrejas da Sé ou do Carmo, no actual Museu Municipal (ao tempo o que restava de uma antiga fábrica corticeira), com as lembranças de êxitos imemoráveis como “A Castro”, “O Grande Teatro do Mundo”, “A Trilogia das Barcas”, havendo com este texto de Gil Vicente  conquistado o primeiro prémio de arte dramática e um destaque especial para o Aurélio Madeira na figura do “1.º Diabo”, etc.
        As memórias acontecidas com o assinalar daquele dia 25 de Outubro de 1985 em que nos deixou (o sarau artístico realizado no Teatro Lethes e a romagem de saudade à sua campa no Cemitério da Esperança) foram um transbordar para o exterior da lembrança desse genialmente fraterno, solidário e artista, que foi o dr. Emílio Campos Coroa.


 in  CRÓNICAS DE UM OUTRO ALGARVE, no Jornal "O Algarve"



Legendas: 62/63 - Equipa de futebol dos professores da EICF (Tomás Cabreira) 
Em cima da esquerda para a direita: Mestre Almeida, ? ,?, Campos Coroa, flor?, Barracha?  
Em baixo: José Afonso, ?,?,? Tomás Bento
(Alguns dos ??? serão: Batista, Palminha, Bagarrão, Leonel, José António)






   

Costa, Manuel Inocêncio





















Aniversário



Eu sei – fazes 18 anos,
Ai que bonita idade,
Quero oferecer-te uma prenda,
Vou levar-te à cidade.

Mas que prenda te darei?
Que oferecer-te poderei?
Que seja do teu agrado?
Ah já sei,

Ofereço-te uma flor;
Uma dália, uma violeta,
Calha contigo, que és simples,
E modesta também,
Que és bela como ninguém;
Mas, não! Não o farei!

Ofereço-te antes uma safira,
Azul, tão azul como o céu,
Nela poderás apreciar,
A beleza e o azul do mar.

Mas não, não é preciso,
Ofereço-te só um sorriso,
Querida irmã!
E mais te faço:
Recebe um abraço!
Sê feliz!

in Ventos do Sul, páginas 105,106



Naquele dia


Naquele dia violento,
Rebentaram tempestades,
E destravou-se o vento;

E o céu escureceu,
Ribombavam os trovões,
Estava escuro como breu;

Os raios caíam na terra,
Num fragor diabólico,
Parecia começada a guerra;

Incendiaram-se as montanhas,
E os vulcões enfurecidos,
Reviravam suas entranhas;

Os cães andavam perdidos,
Pelas ruas desorientados,
Dando lúgubres latidos;

As casas estavam fechadas,
As janelas trancadas,
Dentro pessoas apavoradas,

Com fervor e fé rezavam,
Para esconder o medo,
Única saída que encontravam;

As mães os filhos apertavam,
E palavras lhes diziam,
E assim os confortavam ;

Muitas pessoas pereceram,
Pelo menos é o que se diz.
Ou nunca mais apareceram;

Os transportes pararam,
Parecia suspensa a existência,
Até que todos notaram,

Surgiu uma claridade no céu,
E num estrondo colossal,
O astro sol reapareceu.

Os abismos sossegaram ,
Restabeleceu-se a vida,

A Paz e o Amor voltaram!
in Ventos do Sul páginas 28,29


Notas Biográficas                                                       

Manuel Inocêncio da Costa,  conhecido advogado da nossa cidade, foi professor do ensino Secundário na Escola Comercial e Industrial de Faro.
Associado Costeleta e escritor.
                                         

Bibliografia

Ventos do Sul, em  Março de 2010






Cunha, Norberto




      











O poema seguinte foi a primeira colaboração do autor no jornal do O Olhanense, em 2010, como " uma pequena e simbólica prenda, na forma de um apontamento sobre a Ria Formosa "


Preia-Mar no Ancão O pino da tarde é o momento. Lânguida, verde e transparente a toalha oceânica renova a posse inteira, soberana e amante sobre a Ria. Com ternura, deita-se já nas ilhotas rasas do sapal e carícias imprime no cálido lençol dos louros areais Misturam-se odores. Terra de sal irrigada eflúvios de cardo e trovisco limos e murraça tojos, pinho. Erótico perfume. É agora. Cessou o trotar de caranguejos o compasso da babugem a tensão nas amarras e a deriva dos barcos o voo das aves o percutir de insectos o rumor da brisa. No deslumbre do olhar aprisionado repousada e soberba a líquida e límpida planura• aí está, enfim• em toda a extensão• da sua fecundidade em toda a grandeza da sua imponente quietude. Agora tudo é uno, inteiro completo perfeito. Em êxtase• rendido ao pleno da maré detém-se o universo. Só o sentir se move• e a memória guarda. Não são mais• que saudade antecipada ocaso deste instante mágico e único sempre. Obviamente, nunca o cronista bíblico se aventurou por esta estreita remota e ignota faixa do paraíso. Mas sem ela, sem estes aromas esta luz, esta paisagem• este momento sublime• Éden algum alcançará a completude Norberto Cunha - Jornal "o Olhanense", 2010


In Blog "Costeletas" Colocado por Rogério Coelho em 29-11-2010


 Poema retirado do Facebook do autor do dia 18 -10 2020:

NA TUA AUSÊNCIA
Na falta dos teus braços sinto frio
sem a tua mão adormeço
e sem o teu olhar o meu fica vazio
Na tua ausência, amor
Não há chama nos lençóis
não há estrelas não há sóis
auroras que comigo descobriste
Na tua ausência amor
eu não te esqueço
mas só me perco e pereço
o mundo já não existe...


Mas, além de excelente poeta como se pode ver nos poemas anteriores, Norberto Cunha também surpreendeu os seus leitores com a publicação do livro  "O Triângulo de Dezembro e outras ficções", do qual apresentamos o seguinte excerto:


" Finalmente!
        Impressos preenchidos e entregues, inscrição paga, António deixa a secretaria da escola com o talão bem guardado no bolso e a estimulante certeza de que uma nova vida se abre para si.
        — Olá! Então agora vens estudar à noite? É a mais linda daquelas rapariguinhas que tanto o embaraçavam na farmácia. Mas o sorriso que lhe oferece mostra-se mais límpido e generoso que nessas ocasiões. E como um garoto surpreendido numa travessura, o jovem sente o rubor assomar-lhe ao rosto, mas controla-se. Muito mais ousado tinha sido enfrentar mestre Fulgêncio. E com uma segurança antes impensável responde:
        —   É verdade. E tu? Andas cá na escola?
        —  Já estou no segundo ano. Mas não faz mal, a gente encontra-se à mesma. Então adeus.
       —  Adeus — retribui António um tanto aturdido e deixa-se ficar  a observá-la enquanto, no seu andar gracioso, a desinibida rapariguinha abandona o átrio.
          E eis que, de súbito, lhe sobe uma enorme, imensa, avassaladora, quase irrefreável vontade de gritar, de cantar, de sair correndo aos saltos pelas ruas da cidade! Está tão de bem consigo, tão confiante e feliz, como se acabasse de receber, sem o esperar, o maior, o mais desejado e merecido dos prémios."
                                                    
in O Triângulo de Dezembro e outras ficções, página 153
                                   

Notas Biográficas

Nasceu em Faro, em 6 de Junho de 1939.
Frequentou a  Escola Industrial e Comercial de Faro desde 1956 até 1963, onde fez o Curso de Aperfeiçoamento de Comércio e as Secções Preparatórias para Institutos Comerciais, com o processo nº 3218.
Atualmente vive em Lisboa, Cascais, como ele próprio se define "Sou um farense “exilado” há quase cinquenta anos no concelho de Cascais, bancário aposentado, licenciado em Filosofia, que gosta de escrever e faz da escrita exercício vário, abrangente, onde a cidadania também cabe." 
Tem colaborado em publicações de carácter associativo ou regional com poesias, crónicas, apontamentos e ensaios, e foi colunista do Diário do Sul — Edição Algarve e do Diário do Algarve, de 2000 a 2002


Bibliografia

Panorama da Cidade, poema satírico, Faro 1960 
Breves Poemas para Hoje, Faro 1962.
O Triângulo de Dezembro e outras ficções

                             
 A complementar a biografia do autor  e salientando o valor da sua obra deixamos as palavras  elogiosas de algumas personalidades de reconhecido valor intelectual  retiradas  da 1ª aba de   O Triângulo de Dezembro e outras ficções:


           
                                                    _______________________________

             "Reúne-se nesta obra um feixe de contos cujo recorte estilístico se assemelha a um caleidoscópio literário, matizado num flagrante realismo filosófico, impregnado de pertinentes observações sobre os comportamentos sociais e atitudes políticas que consubstanciaram a nossa sociedade nas últimas décadas. No livro, certos temas são desvelados com a coragem e a genialidade que caracterizaram alguns dos maiores vultos da literatura pátria. Norberto Cunha segue-lhes as pisadas, aproximando-se com inspirada criatividade dos mais consagrados contistas contemporâneos. Será que neste Triângulo de Dezembro se projeta o primeiro passo de uma esperançosa jornada de sucesso? Esperemos que sim:' 

                                                                    José Carlos Vilhena Mesquita 
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Carta a um escritor, por António Gomes Marques



       Há pessoas que escrevem livros, de imediato publicados, que não necessitam de publicidade e, logo à partida, têm a garantia de venda de milhares de exemplares. Há escritores, uns bons e outros excelentes, que se vêem e desejam para encontrar editor e cujas obras, quando editadas, se vão arrastando ao longo do tempo numa venda lenta e que, muito de vez em quando, lá esgotam a edição. O fenómeno não é apenas português. Claro que também acontece que estes escritores, se têm a sorte de as livrarias lhes darem visibilidade, conseguem passar a ser conhecidos e, naturalmente, a ser procurados; no entanto, com raríssimas excepções, o número de exemplares de cada edição dificilmente ultrapassa os 3000 exemplares. Mas são estes escritores que merecem que deles falemos, que gritemos ao Mundo: «Olhem para aquele livro, leiam-no, discutam-no, pensam-no!
        É dum desses escritores que vos quero falar. Não é conhecido do público, não atingiu ainda a excelência e poderá nunca a atingir se não o lermos e, assim, o levarmos a desistir.
        Foi no dia 26 de Novembro de 2007 que o António Norberto Cunha me procurou trazendo um livro debaixo do braço, o que nada teria de extraordinário não fosse ele o autor. Tratava-se de «O Triângulo de Dezembro e outras ficções», livro de contos, livro que estendeu para mim, dizendo: «É para ti!» Com alguma emoção, abri de imediato para lhe pedir a dedicatória, da qual o Norberto não se tinha esquecido e que não resisto a transcrever:
            Dois ou três dias depois iniciei a sua leitura, finda a qual me coloquei frente ao computador, não resistindo a escrever o texto que abaixo vos deixo (e que continuava inédito), texto esse que vos dirá a razão por que não podia deixar de o produzir, e a que chamei:


CARTA A UM ESCRITOR

QUARTA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2011

Meu Caro Norberto

      Já são passados mais de 2 anos sobre a resposta que me deste à inevitável pergunta que se faz a um amigo que não vemos há algum tempo: «Tenho desfrutado da companhia dos netos e do prazer da escrita». Perguntei-te de seguida o que tens escrito, pensando eu que me irias falar da «nossa» Filosofia que tanto tem ocupado as nossas vidas e tu, confesso, voltaste a surpreender-me: «Tenho escrito uns contos, pensando mesmo em publicar um livro».
        Um livro, óptimo, e logo de contos, que eu sempre considerei o mais difícil na ficção. E foi este o tema que se seguiu na nossa conversa. Perguntaste-me então se eu estaria na disposição de ler alguns e, depois, dar a minha opinião. Claro que a resposta teria de ser sim.
          Fui um leitor atento, mas demasiado exigente. Acredita que foi por amizade, dado temer que não passasses de mais um ficcionista no meio de muitos, o que para um amigo meu seria pouco. Tinhas escolhido a via mais difícil para fazer literatura – escrever contos. Mas, na verdade, pode ser-se muito bom contista sem atingir a mestria de um Anton Tchekhov, o melhor de todos na minha modesta opinião.
          Vi, de imediato, que tinhas cuidado com a narração e que sabes perfeitamente que a literatura tem de ser construtiva e não demonstrativa, mas deixei para o futuro uma apreciação mais definitiva sobre a tua qualidade de contista. Foi, mais ou menos, o que te disse depois de lidos os 3 contos que me enviaste, havendo um deles que não me agradou, embora te tivesse dito que deverias pegar nas suas personagens, construir-lhes uma vida, sem preocupações do número de páginas para, assim, ganhares experiência para vires a ser o ficcionista que estavas a pretender ser.
           Mais tarde, disseste-me que o livro estava pronto e que gostarias que eu fizesse, naturalmente com outros, a sua apresentação pública. Convite honroso que não pude aceitar por, nas datas prováveis, não estar no país. Foi pena não ter podido testemunhar este momento importante da tua vida, igualmente importante para os amigos!
           Entretanto, chegou-me o livro, «O Triângulo de Dezembro e outras ficções», generosamente oferecido por ti, cuja leitura iniciei cheio de curiosidade uns dias mais tarde, logo que terminadas outras leituras (não consigo ler um só livro de cada vez).
          Nos contos gosto, naturalmente, de histórias curtas que sejam capazes de sintetizar um romance em meia dúzia de páginas, ou menos, que me falem de pessoas vivas, verosímeis, que levam a nossa imaginação a procurar a solução do mistério que o autor tão bem nos sabe apresentar. Por isso, gosto dos contos de Manuel da Fonseca, do Carver, da Flannnery O’Connor, do Juan Rulfo, do Italo Calvino, como também de Ilya Ehrenburg (esqueçamos um pouco o seu estalinismo), do Guy de Maupassant, da «Servidão e Grandeza dos Franceses », de Aragon, do Miguel Torga e de muitos, muitos outros, sem esquecer o maior – Anton Tchekhov.
         E gosto dos teus contos, perfeitamente enquadrados quase todos eles na minha concepção do que é um conto. Apareceram-me como narrados de dentro do universo que procuras retratar, sentindo-se muitas vezes a tua adesão ao mundo que mostras, numa linguagem simples para o leitor, bem mais difícil para o autor. Mostras dominar já bastante bem, para além da linguagem, a técnica do conto, a criação do mistério a partir de uma realidade que o leitor pode (deve) conhecer.
          Por fim, não posso deixar de referir que continuaste a surpreender-me. Falo do conto «A Bandeira Moçárabe», que tomo como homenagem à terra que te viu nascer, Faro, conto esse prenhe de erudição.Poderias ter escolhido a época pré-histórica ou a época romana, bem assinaladas por traços bem materiais; optaste pela época da ocupação islâmica, iniciada no séc. VIII, mostrando um conhecimento profundo do viver quotidiano da época que retratas e que resulta numa lição erudita que me encantou. Bem hajas!

        E pronto, meu caro António Norberto, esta carta já vai longa e é tempo de a terminar.

        Abraça-te com a amizade de sempre o

                           António

 In Blog Estrolabio


https://estrolabio.blogs.sapo.pt/tag/norberto+cunha

Igualmente publicamos a foto e a notícia da apresentação do livro em dezembro de 2007, retirada do Blogue da AAAETC





O TRIÂNGULO DE DEZEMBRO E OUTRAS FICÇÕES

O "Costeleta" Norberto Cunha, associado e colaborador do nosso jornal em artigos "Naquele Tempo", fez a apresentação do seu livro "O Triângulo de Dezembro e Outras Ficções", no passado dia 12 de Dezembro na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa em Faro. A Direcção da nossa Associação e outros "Costeletas" estiveram presentes no evento, com destaque para Daniel Mendonça, Franklin Marques, Isabel Coelho, João Ramos, Jacinta Ramos (Mimi), Luís Cunha, Vitor Cunha, João Rezende e Rogério Coelho (que fotografou). Na foto podemos apreciar a apresentação do Livro pelo Autor. Lemos, gostámos e apresentamos ao Autor as nossas felicitações e aguardamos o próximo lançamento Publicada pela  Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira.