sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Évora, Fernando

     


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               Era este eucaliptal propriedade do Engenheiro Heliodoro da Palma Gervásio, que se supõe pelo nome descendente do tal capitão Adolfo da Palma Gervásio, velho e importante personagem na terra e herói nacional. Mas certifica o narrador que se refere tal posse fundiária não é por pretensão de acusar toda a família Palma Gervásio de atentado ambiental, elementar egoísmo capitalista (até porque nas suas linhagens se encontram nobres e bispos), ou apenas para denegrir um nome de família como qualquer outro, e que se o faz é apenas para não faltar à verdade dos factos e dos tempos.
           Contudo, o nosso Borradeiro não seria em consciência dotado de uma elevada formação ecológica ou preocupações ambientais, pelo que a prova que a ele mesmo se propusera - atravessar o referido eucaliptal até ao sítio onde o sol apareceria -, se manteve inalterável, até porque desconhecia  a extensão e monotonia da paisagem que iria encontrar, e que as primeiras fileiras de árvores pareciam não confirmar.Isto porque na orla do eucaliptal a perder de vista era ainda possível encontrar urzes, silvas e arbustos diversos, além de variadas aves, em particular as canoras que encantavam alguns namorados e solitários mais dados à comunhão com a natureza, e que por essa franja rural passeavam exaltados ou apaixonados. Isto sem prejuízo do acumulado pontual de latas, plásticos e outros detritos mais orgânicos que sobejavam dos piqueniques que por ali alguns dos habitantes menos cuidadosos da cidade insistiam em fazer, e que atraíam as moscas de tonalidades mais abjectas e um variado leque de vermes e roedores de aparência repugnante. Complementava assim esta zona o bucólico e romantismo da natureza com a lixeira repulsiva e nauseabunda.
in  Como se de Uma Fábula se Tratasse, páginas 69 e 70


Notas Biográficas



Fernando Évora nasceu em Faro,em 1965.  
Foi aluno da Escola Secundária Tomás Cabreira nos anos 70 do séc.XX.
Licenciado em História, obteve o prémio Damião de Odemira, em 1999, e, no ano seguinte, o prémio da ARCA, ambos na modalidade de conto.
Tem-se afirmado como autor de contos, modalidade onde já obteve vários prémios literários. Além de alguns textos dispersos e incursões na literatura infantil.


Bibliografia

A Fonte de Mafamede,2001
Como se de uma fábula se tratasse 
No país das Porcas-Saras. 
Amor e Liberdade de Germana Pata-Roxa,  2012


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