sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Rocha, Lutília Gonçalves





A cada colega costeleta

presente nesta confraternização
a festejar o Natal,
o nosso abraço
a encurtar o espaço.
e a aquecer o coração.

Que este dia 
seja de alegria
e muito especial,
que a todos comprometa
conservar o ideal
do ser costeleta!

Apesar do esforço
em estar presente
ao convívio do almoço...
para esta altura do ano
já havia outro plano
que tínhamos pendente.

Lamentamos a ausência
ficamos em abstinência

Mas quando abril chegar...
se Menino Jesus deixar
lá estaremos com alegria.
Brindem todos à harmonia
dum Santo e Feliz Natal
e que o Novo Ano seja
o que o coração deseja.

Boas Festas!
Lutília e Ludgero Rocha

in blogue da AAAETC


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Esta noite é noite de S. João.



        Nas aguarelas da minha infância há postais coloridos desta noite que dança e rodopia até ser dia, como ainda hoje, em algumas localidades.
        Recordo de ler que na vida das comunidades desde a pré-história, havia datas chaves que assinalavam a relação mágica com a terra e o céu. A festa desta noite herda da festa pagã do solstício de Verão todos os símbolos que a caracterizam – pedras, plantas, água e fogo.
      No calendário litúrgico, S. João Batista é o santo precursor da anunciação e preparação da vinda de seu primo – Cristo Redentor. Batizou-O no rio do Jordão, apresentando-O como o Messias.
     O seu culto alia à festa religiosa toda a alegria de um festejo popular que se expande pelas ruas e se comunica e exterioriza de forma ruidosa.
      Naquela época, em que começava despertar para o intrincado da vida, a minha terra, de casario disperso pela serra algarvia de Monte Figo, debruçada sobre a aldeia de Santa Bárbara de Nexe, ganhava um encanto especial, particularmente nesta noite.
      Os mastros surgiam erguidos pelos rapazes onde havia raparigas por perto. Eram cinco: quatro mais pequenos em cada canto formando um quadrado e um grande ao centro de onde pendiam as fitas para a dança do bailarico, todos enfeitados de macela florida, alecrim ou murta que aromatizavam o lajedo onde a fogueira se iria acender para iluminar a noite.
       Os manjericos enfeitavam as janelas de onde saía a luz frouxa das candeias de azeite.
       O som do harmónio ecoava pelas redondezas convidando ao bailarico.
      Os mais idosos sentados nas cadeirinhas de tabua, com o garrafão de vinho tinto ao lado, o naco de pão e a sardinha estivada assada conversavam animadamente.
       As crianças davam largas à alegria saltando a fogueira, nove vezes e dando vivas a São João.
        As raparigas casadoiras, divertiam-se tirando «as sortes».
       Usavam cera derretida, alcachofras chamuscadas, papelinhos com nomes de rapazes, tudo servia para tentar ler o futuro.
      As mulheres casadas faziam a sorte das favas para ver se o ano seria bom para as colheitas – a fava vestida, a semi-nua e a nua – eram passadas pela fogueira nove vezes e escondidas às escuras sob o travesseiro. Na manhã de S. João retirava-se uma fava: se viesse sem casca, o ano seguinte seria de miséria, o contrário seria de fartura.
      Outra sorte era a da bacia com água. Passando-a pela fogueira as benditas nove vezes servia de espelho da vida: se o rosto era visível chegaria ao próximo S. João. Depois essa água servia para lavar o rosto na manhã seguinte, dizia-se, para ficar com pele macia.
        Muitas outras sortes haviam.
         E todos dançavam naquela noite, rindo e cantando onde parecia que o tempo parava.
      Ao terminar da festa, pegava-se na cinza da fogueira para batizar as craveiras na manhã de S. João dizendo:

Eu te batizo craveira
na manhã de S. João
dá cravos de toda a cor
só pretos é que não.

       Assim, nesta noite em que o arraial tem o brilho da alegria de quem vai para a rua festejar os seus santos, com sabor a sardinha, perfume de manjerico e trovas a rolar pelo ar, dê-se ao prazer de sentir a vida ao pormenor, saboreando cada momento que por si desliza, caro amigo costeleta, e viva o São João!


          Carinhosamente aqui fica um abraço

Lutilia Rocha

in http://costeletasfaro.blogspot.com/2019/


Biografia

Santa Bárbara de Nexe.
Frequentou a Escola Industrial e Comercial de Faro, nos anos 50, e a Escola do Magistério Primário de Faro.
Professora do Ensino Básico, escritora e poeta.
Colabora no blogue da AAAAETC - Associação dos Antigos Alunos da Escola Tomás Cabreira.




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